quarta-feira, 23 de maio de 2012

Será o "Julgamento do ano"?



Quase um mês de funcionamento e a CPI mista do Cachoeira não consegue sair do canto. Só avança mesmo no quesito briga partidária. O esperado silêncio do bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, durante depoimento ontem na comissão, é o símbolo maior de que tudo permanece na estaca zero e ainda abre um precedente. Outros convocados devem seguir o mesmo caminho e ficar com a boca fechada. Irônico, o contraventor alegou que a CPI forçou o seu depoimento, no entanto, disse que poderia contribuir muito no futuro, após audiência na Justiça de Goiás, marcada para 31 de maio.

Com um riso discreto, fez piada ao ser questionado logo no início da sessão: “Essa é uma boa pergunta para ser respondida depois”. Não teve acordo. Bastante abatido, visivelmente mais magro e com cabelos brancos à mostra, ficou calado mesmo diante de provocações e da oferta de um depoimento secreto ou de uma delação premiada feita, de maneira repetida, por vários integrantes da CPI. No fim do depoimento, alguns parlamentares, frustrados, falaram que é preciso fazer um esforço gigante para evitar o sepultamento da comissão.

“A questão dos governadores, a convocação de Cavendish e a ampliação da quebra do sigilo da Delta no Brasil são assuntos que vão ser debatidos obrigatoriamente no nosso próximo encontro administrativo”, assegurou Vital do Rêgo. O relator defendeu a mesma tese. Na prática, com o envio das informações da Operação Saint-Michel para a CPI (leia mais na página 3), o sigilo nacional da Delta já foi quebrado. Visivelmente frustrado e reconhecendo nas entrelinhas o fracasso dos trabalhos desenvolvidos até o momento, o senador Vital do Rêgo afirmou que vai traçar estratégias com o relator para evitar “novos silêncios na comissão”. Mas não detalhou como isso será feito.

Advertência
A sessão de ontem durou pouco mais de duas horas. Diante do argumento de que o depoente estava sendo beneficiado por escutar todas as perguntas dos parlamentares e permanecer em silêncio, a senadora Kátia Abreu (PSD-TO) apresentou requerimento pedindo o encerramento da sessão. Ela argumentou que os parlamentares estavam treinando o depoente. “Estamos aqui perguntando para uma múmia. O que as pessoas vão pensar de nós? Não vou fazer o papel ridículo de entregar o ouro ao bandido.”

Logo no início, antes de qualquer pergunta, o relator concedeu 20 minutos para Cachoeira falar. “Estou aqui como manda a lei. Fui advertido pelos meus advogados para não dizer nada. Eu não vou falar nada aqui. Somente depois da audiência que vamos ter no juiz, se acharem que eu devo contribuir, podem me chamar que eu virei para falar. Tenho muito a dizer depois da audiência.” Na saída, o advogado dele, o ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos, não assegurou que ele falaria no futuro.

Ao ser indagado pelo relator sobre as suas movimentações bancárias e os empréstimos recebidos da empresa BET Capital, Cachoeira deixou claro sua estratégia e alegou mais uma vez, demonstrando certa impaciência, de que não falaria nada. Alguns deputados se irritaram. Após ser chamado de “bandido, marginal, múmia e chefe de quadrilha” por senadores e deputados dos mais variados partidos, o bicheiro continuou tomando o seu cafezinho, anotando tudo num papel e repetindo o mantra do silêncio constitucional. Ao lado do advogado, ria algumas vezes e trocava olhares com a mulher, Andressa Mendonça, que acompanhava tudo da última fileira de cadeiras do plenário.

Antes do fim da sessão, muitos integrantes desistiram de fazer perguntas. “Não vou fazer nenhum questionamento”, afirmou o senador José Pimentel (PT-CE). O deputado Sílvio Costa (PTB-PE) foi o primeiro a alertar que os integrantes não deveriam formular questionamentos. “Estamos sendo ridicularizados ao cubo.” Alguns insistiram e a CPI se transformou num palco de briga partidária. Os oposicionistas fizeram, mesmo sabendo que ele não responderia nada, perguntas para tentar incriminar o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT-DF). As perguntas dos governistas tinham o claro propósito de ligar Cachoeira ao governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB-GO).

Na quinta-feira, a comissão vai ouvir o sargento da Aeronáutica Idalberto Matias de Araújo, o Dadá; Lenine Araújo de Souza, apontado como responsável pela contabilidade do grupo; e Jairo Martins de Souza, um dos espiões da organização criminosa. O defesa de Cachoeira comunicou que ele não vai comparecer hoje ao Conselho de Ética como testemunha de defesa do senador Demóstenes Torres (sem partido-GO).

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