Por Leonardo Boff, no jornalBrasil de Fato:
O
objeto da Comissão da Verdade deve, sim, tratar dos crimes e dos
desaparecimentos perpetrados pelos agentes do Estado ditatorial. É sua tarefa
precípua e estatutária. Mas não pode se reduzir a estes fatos. Há o risco de os
juízos serem pontuais.
Precisa-se
analisar o contexto maior que permite entender a lógica da violência estatal e
que explica a sistemática produção de vítimas. Mais ainda, deixar claro o
trauma nacional que significou viver sob suspeitas, denúncias, espionagem e
medo paralisador.
Neste sentido, vítimas não foram apenas os que sentiram em seus corpos e nas
suas mentes a truculência dos agentes do Estado. Vítimas foram todos os cidadãos.
Foi toda a nação brasileira. Para que a missão da Comissão da Verdade seja
completa e satisfatória, caberia a ela fazer um juízo ético-político sobre todo
o período do regime militar.
Importa assinalar claramente que o assalto ao poder foi um crime contra a constituição. Configurou uma ocupação violenta de todos os aparelhos de Estado para, a partir deles, montar uma ordem regida por atos institucionais, pela repressão e pelo estado de terror.
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