segunda-feira, 28 de maio de 2012

Escola em tempo integral

Betim trabalha educação além da sala de aula

Mais que ampliar o tempo escolar e as atividades curriculares de 10 mil alunos, o Programa Escola da Gente busca fortalecer a ideia de que todos os espaços da cidade podem, de algum modo, ser educativos e contribuir para a formação das crianças em situação de vulnerabilidade social do município

Projeto educacional de Betim aposta no ensino, dentro e fora da sala de
Melhorar a qualidade da educação e intensificar a segurançao a partir da prevenção
Foto: Pedro Silveira
Escola em tempo integral
Desenvolvido com o apoio do programa Mais Educação – do Ministério da Educação (MEC), que arca com os custos de equipamentos e materiais, além do arcabouço conceitual –, o Escola da Gente mantém o princípio de escola em tempo integral, a exemplo de programas de outros municípios brasileiros, mas tem como maior diferencial a intersetorialidade das ações, antes pontuais, e o atendimento integral dos alunos. “A mesma criança que vai à escola é atendida pela assistência social. Então, ao invés de tratar o ser humano de forma fragmentada, ele é visto de forma integral. Isso potencializa o resultado do atendimento, e o impacto na vida dessa criança é muito maior”, explica Dalvonete dos Santos, coordenadora do Escola da Gente.
Carlos Alberto de Moraes, pedagogo e um dos integrantes da equipe de coordenação, afirma que a concepção do trabalho é uma “volta ao passado”. “Temos de voltar a pensar que somos um grande todo e tentar diminuir a ruptura entre educação, saúde, lazer... O professor, o médico, o assistente social, cada um vê um pedaço da criança. Com o Escola da Gente, temos múltiplos olhares e uma troca de informações sobre o que aquela criança precisa para se desenvolver de forma saudável”, diz Carlos.
  


O fato de ser custeado por onze secretarias – Educação, Assistência Social, Saúde, Meio Ambiente, Esporte, Cultura, Planejamento, Secretaria de Governo, Secretaria de Comunicação, Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Transbetim – é outro diferencial importante, pois gera maior comprometimento e cria uma nova cultura de atendimento ao cidadão. As secretarias elaboram ainda o Planejamento Estratégico, definindo ações, prazos e responsáveis, buscando o envolvimento, a valorização e atuação de todos da comunidade escolar. “Houve uma mudança de mentalidade muito importante dentro do próprio governo. As secretarias passaram a dialogar no fórum que se reúne mensalmente para planejar e monitorar o projeto. Isso cria muda os paradigmas das políticas públicas”, avalia Dalvonete Cândida.

Transformando alunos e professores
Gestora do projeto na Escola Municipal Maria Helena da Cunha Braz, no bairro Icaivera, uma das regiões mais carentes de Betim, a educadora Cícera Ferreira de Oliveira não hesita em afirmar que o Escola da Gente foi o que “de melhor aconteceu” para a comunidade em termos de educação e proteção das crianças. “Durante oito anos estive na direção da escola e tenho uma paixão pela sala de aula. Mas sempre achei insuficiente o que fazíamos porque conheço a carência do bairro. Aqui os meninos eram desprovidos de lazer, cultura, de apoio familiar, de tudo”, conta.

Foi nas oficinas de música, artes visuais, artes cênicas e circenses, dança, recreação, meio ambiente, esporte e letramento que muitos alunos descobriram um mundo além da sala de aula e das ameaças de criminalidade presentes nas ruas. Segundo Cícera, o projeto também reduziu o índice de violência na escola – hoje a comunidade respeita e valoriza o espaço – e melhorou o comportamento dos alunos considerados indisciplinados.

“Esse aluno geralmente tem habilidades para a dança, o grafite, o esporte. No projeto, é ele quem se destaca, quem é valorizado e reconhecido. Isso melhora muito a autoestima. Quando esse menino volta para a sala de aula, ele pensa duas vezes antes de fazer algo que possa prejudicar esse respeito”, diz Cícera.

Os pais confirmam a tese da educadora. Cleidiane Guimarães Mendes é mãe de Cleiton, de 10 anos, aluno da oficina de música. Além da tranquilidade de poder trabalhar sabendo que o filho está longe das ruas, ela constata que o Escola da Gente contribuiu para sua disciplina. “Eu acho ótimo o projeto não só por ele ficar na escola o dia todo. Ele está mais aplicado, mais interessado. Antes tinha muita dificuldade com a leitura, hoje lê um livro inteiro. Fora que, para mim, é uma alegria ver o Cleiton tocar na flauta a música do Titanic, Asa Branca... Ele fez até apresentação no final do ano”, conta a mãe coruja.

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