Mais que ampliar o tempo escolar e as atividades curriculares de 10 mil alunos, o Programa Escola da Gente busca fortalecer a ideia de que todos os espaços da cidade podem, de algum modo, ser educativos e contribuir para a formação das crianças em situação de vulnerabilidade social do município
Melhorar a qualidade da educação e intensificar a segurançao a partir da prevenção
Foto: Pedro Silveira
Escola em tempo integral
Desenvolvido com o apoio do programa Mais Educação – do Ministério da
Educação (MEC), que arca com os custos de equipamentos e materiais,
além do arcabouço conceitual –, o Escola da Gente mantém o princípio de
escola em tempo integral, a exemplo de programas de outros municípios
brasileiros, mas tem como maior diferencial a intersetorialidade das
ações, antes pontuais, e o atendimento integral dos alunos. “A mesma
criança que vai à escola é atendida pela assistência social. Então, ao
invés de tratar o ser humano de forma fragmentada, ele é visto de forma
integral. Isso potencializa o resultado do atendimento, e o impacto na
vida dessa criança é muito maior”, explica Dalvonete dos Santos,
coordenadora do Escola da Gente.
Carlos Alberto de Moraes, pedagogo e um dos integrantes da equipe de
coordenação, afirma que a concepção do trabalho é uma “volta ao
passado”. “Temos de voltar a pensar que somos um grande todo e tentar
diminuir a ruptura entre educação, saúde, lazer... O professor, o
médico, o assistente social, cada um vê um pedaço da criança. Com o
Escola da Gente, temos múltiplos olhares e uma troca de informações
sobre o que aquela criança precisa para se desenvolver de forma
saudável”, diz Carlos.
O fato de ser custeado por onze secretarias – Educação, Assistência
Social, Saúde, Meio Ambiente, Esporte, Cultura, Planejamento, Secretaria
de Governo, Secretaria de Comunicação, Secretaria de Desenvolvimento
Econômico e Transbetim – é outro diferencial importante, pois gera maior
comprometimento e cria uma nova cultura de atendimento ao cidadão. As
secretarias elaboram ainda o Planejamento Estratégico, definindo ações,
prazos e responsáveis, buscando o envolvimento, a valorização e atuação
de todos da comunidade escolar. “Houve uma mudança de mentalidade muito
importante dentro do próprio governo. As secretarias passaram a dialogar
no fórum que se reúne mensalmente para planejar e monitorar o projeto.
Isso cria muda os paradigmas das políticas públicas”, avalia Dalvonete
Cândida.
Transformando alunos e professores
Gestora do projeto na Escola Municipal Maria Helena da Cunha Braz, no
bairro Icaivera, uma das regiões mais carentes de Betim, a educadora
Cícera Ferreira de Oliveira não hesita em afirmar que o Escola da Gente
foi o que “de melhor aconteceu” para a comunidade em termos de educação e
proteção das crianças. “Durante oito anos estive na direção da escola e
tenho uma paixão pela sala de aula. Mas sempre achei insuficiente o que
fazíamos porque conheço a carência do bairro. Aqui os meninos eram
desprovidos de lazer, cultura, de apoio familiar, de tudo”, conta.
Foi nas oficinas de música, artes visuais, artes cênicas e circenses,
dança, recreação, meio ambiente, esporte e letramento que muitos alunos
descobriram um mundo além da sala de aula e das ameaças de
criminalidade presentes nas ruas. Segundo Cícera, o projeto também
reduziu o índice de violência na escola – hoje a comunidade respeita e
valoriza o espaço – e melhorou o comportamento dos alunos considerados
indisciplinados.
“Esse aluno geralmente tem habilidades para a dança, o grafite, o
esporte. No projeto, é ele quem se destaca, quem é valorizado e
reconhecido. Isso melhora muito a autoestima. Quando esse menino volta
para a sala de aula, ele pensa duas vezes antes de fazer algo que possa
prejudicar esse respeito”, diz Cícera.
Os pais confirmam a tese da educadora. Cleidiane Guimarães Mendes é
mãe de Cleiton, de 10 anos, aluno da oficina de música. Além da
tranquilidade de poder trabalhar sabendo que o filho está longe das
ruas, ela constata que o Escola da Gente contribuiu para sua disciplina.
“Eu acho ótimo o projeto não só por ele ficar na escola o dia todo. Ele
está mais aplicado, mais interessado. Antes tinha muita dificuldade com
a leitura, hoje lê um livro inteiro. Fora que, para mim, é uma alegria
ver o Cleiton tocar na flauta a música do Titanic, Asa Branca... Ele fez
até apresentação no final do ano”, conta a mãe coruja.
FONTE:TEORIA E DEBATE
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